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Processos: Eu sei quem sou...

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“... quando esta [Simone de Beauvoir] afirma que a gente não nasce mulher, mas que a gente se torna (costumo retomar essa linha de pensamento no sentido da questão racial: a gente nasce preta, mulata, parda, marrom, roxinha, etc., mas tornar-se negra é uma conquista). Se a gente não nasce mulher, é porque a gente nasce fêmea, de acordo com a tradição ideológica supracitada: afinal, essa tradição tem muito a ver com os valores ocidentais.” Lélia Gonzalez, 1988.   Paula você está produzindo? Sim, uma série de autorretratos, mas não sei quando termino e se termino. Entrei nesse caminho há um tempo, minha frase geradora é “EU SEI QUEM SOU, MAS ÀS VEZES ME ESQUEÇO”. Processos artísticos podem nos obrigar a lidar com inseguranças e, outras vezes, inseguranças me fazem entrar em processos. Converso com as pessoas próximas, fico pensando se não abro os tais gatilhos (palavra na moda). Ainda não sei pra onde vai a pesquisa, por enquanto para o meu diário.  O termo não branca é um incômodo profu

A felicidade não é normativa (2013 - )

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É possível ser feliz apesar de tudo? Nem sempre tem sido. Por isso voltei a estudar essas fotos. A série só virou série quando a frase “A FELICIDADE NÃO É NORMATIVA” surgiu numa conversa com minha amiga Aanlu. Vou anotando outras frases de pessoas que são referências e lembrando: "a felicidade é nossa maior vingança". Estamos vivendo a aceleração de um genocídio. Entre tantas injustiças, está o fato de transformarem as nossas vidas em apenas dor. Amo o verso “permita que eu fale, não as minhas cicatrizes”. Mais do que nunca, a dissidência é necessária.  

Projeção mapeada BRILHO (2016-2017)

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Realizada entre 2016 e 2017, a série fotográfica BRILHO , é formada por retratos de travestis residentes na cidade de Juiz de Fora. O contato inicial entre a artista e as retratadas ocorreu por intermédio de MC Xuxu, cantora travesti negra juiz-forana projetada nacionalmente pelos funks que cria e pelo trabalho político e social que desenvolve na cidade, e, que fez, com que em 2018, recebesse o título de Cidadã Benemérita de Juiz de Fora. Durante meses Paula Duarte conviveu com o grupo e pode conhecer em detalhes a vida de cada uma delas. Entrevistas e registros fotográficos diversos que revelaram os impasses cotidianos vivenciados por travestis e transexuais na cidade. De acordo com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) e dados da ONG Transgender Europe (TGEu) disponibilizados em 2018, o Brasil está no topo do ranking de assassinatos de pessoas transgêneras em todo o mundo.   Portanto, situações de violência e exclusão marcaram grande parte das histórias ouvidas e g

Nem o sabão é neutro (2019)

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       "Se eu não posiciono aquilo que eu faço, é porque a minha posição é de poder e privilégio tão grande que eu não preciso me posicionar." Grada Kilomba   Em 2019, foi realizada a performance “NEM O SABÃO É NEUTRO” durante a Feira Noturna da Praça Antônio Carlos, em Juiz de Fora (MG).  Na ação, Paula distribuiu sabonetes carimbados com a frase “nem o sabão é neutro”.  O agir democrático requer constantes trocas entre os membros de uma comunidade e existem princípios que precisam ser respeitados como a educação cidadã, o conjunto de direitos inerentes a todas as pessoas - os Direitos Humanos - e a busca por uma sociedade mais justa. Não é possível falar em  neutralidade quando pensamos nesses valores, pois não praticá-los significa estar do lado oposto a eles. Dessa forma, o trabalho provoca a pensar sobre a existência de uma suposta neutralidade a partir da ironia.  

Eu me levanto (2018-2020)

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   “Você pode me fuzilar com suas palavras, E me cortar com o seu olhar Você pode me matar com o seu ódio, Mas assim como o ar, eu vou me levantar” Ainda Assim Eu Me Levanto- Maya Angelou   O projeto “Eu me levanto” já se desdobrou em uma performance, vídeo-poema, ações de lambe-lambe em Juiz de Fora, Portugal e Espanha. Inicialmente, Paula pintou com aquarela o retrato de Marielle Franco, que foi impresso em papéis de seda, com os quais foram feitas trinta pipas. Elas cruzaram os céus em uma performance. Os trabalhos foram iniciados em março de 2018 após o assassinato da vereadora e ativista dos direitos humanos Marielle Franco. O projeto que partiu de um momento de dor e aborda um grito que foi calado. Entretanto, de maneira delicada, também busca ecoar o legado de resistência de Marielle e tantas outras mulheres negras. O título foi inspirado no poema “Still I Rise” de Maya Angelou.

Fotos de viagem (2017-2019)

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  “À medida que cada vez mais o grandioso, o monumental pode ser associado à arte dos vencedores, de impérios autoritários, da arte nazista, do Realismo Socialista aos épicos hollywoodianos, é justamente no cotidiano, no detalhe, no incid ente, no menor que residirá o espaço da resistência, da diferença” Denilson Lopes     O fotolivro traz o incômodo da autora. Mulher negra latino-americana que se viu em outro território, rodeada por memórias de um passado colonial como o suntuoso “Marco dos Descobrimentos” em Portugal e por incontáveis situações de xenofobia e hipersexualização de seu corpo. Situação na qual, artisticamente, não caberia as tradicionais fotos de viagem. O não-lugar do corpo negro se parecia mais com a vitrine de um açougue do que com os luxos de castelos e jardins. Por muitas vezes, o reflexo da fotógrafa aparece nos vidros e se mistura às carnes registradas pelas suas lentes em um jogo com as posturas das selfies típica de turistas. As imagens foram realizadas em via

A primeira vez que entendi do mundo (2011 - 2019)

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A série de fotografias aborda a infância. Em 2011 foi clicada a primeira imagem. Já em 2015 elas foram expostas no festival FOTO 15 como exposição convidada do Prêmio Funalfa de Fotografia (Juiz de Fora - MG). “A primeira vez que entendi do mundo” é o título de um dos poemas de Affonso Romano de Sant’Anna, no qual o poeta conversa sobre a sua vivência a partir de uma descoberta da infância. Ainda em 2015, levamos a exposição para o Centro Socioeducativo - instituição de acautelamento para jovens que praticaram atos infracionais. Ela foi montada na sala onde acontecem as visitas das famílias. Deveria ser temporária, mas nada pareceu mais justo do que deixá-la lá permanentemente, afinal, o centro não é um espaço de punição e não deve ter a cara de prisão.  Em julho de 2020, recebi a notícia que mandaram tirar as fotos e algumas sumiram. Inclusive, a mais simbólica: uma imagem da pipa atravessando o muro com arame farpado. O fato que poderia ter ido para o lixo não me abala. Fico triste p