Processos: Eu sei quem sou...


“... quando esta [Simone de Beauvoir] afirma que a gente não nasce mulher, mas que a gente se torna (costumo retomar essa linha de pensamento no sentido da questão racial: a gente nasce preta, mulata, parda, marrom, roxinha, etc., mas tornar-se negra é uma conquista). Se a gente não nasce mulher, é porque a gente nasce fêmea, de acordo com a tradição ideológica supracitada: afinal, essa tradição tem muito a ver com os valores ocidentais.” Lélia Gonzalez, 1988.

 

Paula você está produzindo? Sim, uma série de autorretratos, mas não sei quando termino e se termino. Entrei nesse caminho há um tempo, minha frase geradora é “EU SEI QUEM SOU, MAS ÀS VEZES ME ESQUEÇO”.



Processos artísticos podem nos obrigar a lidar com inseguranças e, outras vezes, inseguranças me fazem entrar em processos. Converso com as pessoas próximas, fico pensando se não abro os tais gatilhos (palavra na moda). Ainda não sei pra onde vai a pesquisa, por enquanto para o meu diário. 

O termo não branca é um incômodo profundo, por mais uma vez colocar o branco como norte e todas que não são brancas no espaço de negação, o não-lugar. Não precisamos de norte, é urgente descolonizar imaginários e representações, como canta Larissa Luz “eu não vou entrar nessa jaula”. Entender identidade étnico racial é urgente para desmistificar a (falácia, o caô, a fake news) chamada democracia racial. A ideia que a miscigenação trouxe justiça social é muito bem estruturada na América Latina, pautada em obras amplamente conhecidas no mundo acadêmico como a de Gilberto Freyre e do mexicano José Vasconcelos. Mais que uma idéia: um projeto político.











Quem sou eu perto desses homens e desse mito?
Lembro de uma entrevista que minha amiga, uma intelectual chamada Lia Manso, falou: “Assumir-se preta é um lugar de dor, mas um lugar que não é só seu e, por isso mesmo, não pode ser invisibilizado. Toda mulher negra que se reconhece como tal tem uma militância orgânica, uma luta arraigada no simples fato de existir sendo preta". Lia está certa, consciência é um caminho sem volta. É impossível esquecer quem somos. Talvez, por isso não me esqueço da poeta Victoria Santa Cruz que grita em uma performance: “Negra soy”.



















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