Projeção mapeada BRILHO (2016-2017)




Realizada entre 2016 e 2017, a série fotográfica BRILHO, é formada por retratos de travestis residentes na cidade de Juiz de Fora. O contato inicial entre a artista e as retratadas ocorreu por intermédio de MC Xuxu, cantora travesti negra juiz-forana projetada nacionalmente pelos funks que cria e pelo trabalho político e social que desenvolve na cidade, e, que fez, com que em 2018, recebesse o título de Cidadã Benemérita de Juiz de Fora. Durante meses Paula Duarte conviveu com o grupo e pode conhecer em detalhes a vida de cada uma delas. Entrevistas e registros fotográficos diversos que revelaram os impasses cotidianos vivenciados por travestis e transexuais na cidade. De acordo com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) e dados da ONG Transgender Europe (TGEu) disponibilizados em 2018, o Brasil está no topo do ranking de assassinatos de pessoas transgêneras em todo o mundo.   Portanto, situações de violência e exclusão marcaram grande parte das histórias ouvidas e gravadas pela artista. 

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 MC Xuxú (2016).

A série fotográfica procurou projetar uma imagem positiva e de esperança de cada entrevistada e contou com a produção da travesti Karol Vieira. Os retratos, selecionados pelas próprias participantes, foram projetados e intercalados por frases que revelam sobre a violência vivenciada pelo grupo fotografado. As imagens foram exibidas em fachadas de prédios icônicos da região central da cidade mineira, espaços muitas vezes negados a elas, locais pelos quais as travestis relatam não transitar antes da madrugada.


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 As travestis transferem a sua vida privada para um espaço coletivo, compartilhado com pessoas que não escolheram e que tampouco conhecem. A falta de controle sobre a veiculação de suas imagens fotográficas é uma questão ética discutida pela artista junto ao grupo. Discussão que é basilar na antropologia e presente também na arte, afinal a fotografia não pode ser entendida e recebida apenas como documento porque sua natureza não é objetiva, tampouco fixa.  É justamente quando a fotografia supera o aparato técnico e insere-se na poética e na criação expressiva que se ultrapassa o campo da etnografia para adentrar-se no território da arte. 


Texto extraído do artigo:

“Entre paredes, ruas e ventos que se movem: uma reflexão sobre a obra de Paula Duarte”

de Francione Oliveira Carvalho e Matheus Assunção 

 

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